A doutrina da Trindade é uma das mais importantes
doutrinas do cristianismo ortodoxo. Percebe-se, entretanto, que, pelo menos no
contexto brasileiro, essa doutrina é tida em pouca consideração. A razão disso
talvez seja o pragmatismo que a religião brasileira tem como base. As pessoas
só se interessam por aquilo que entendem que pode ser útil para sua vida. Elas
querem coisas práticas e estão enjoadas de teoria. Esse é justamente o motivo
pelo qual não gostam de estudar teologia. Teologia sugere algo teórico, e as
pessoas dizem que estão mais interessadas em “experiências” com Deus, e na
prática demonstram que desejam “soluções” de Deus para seus problemas.
Não é o caso de que os cristãos não acreditem na
veracidade da doutrina da Trindade, apenas, de forma geral, as pessoas não
sabem para que ela serve. É aquela velha história de que para que algo seja
importante, precisa “falar ao coração”. Talvez, para a maioria, pouco importa
se Deus é um ou três.
Entretanto, esquecer-se ou descaracterizar a doutrina da
Trindade é perder muito do que a Bíblia e especialmente Deus tem a nos dizer no
real sentido da palavra. É perder de vista a coisa mais essencial de Deus que
podemos saber. Na verdade, é ignorar a própria essência de Deus. Poucas pessoas
pensam na Trindade hoje em dia, e quando pensam, não seria absurdo dizer que em
muitos casos imaginam três deuses. Esse importante assunto precisa ser melhor
estudado.
Num certo sentido, a doutrina da Trindade é de fato a
mais misteriosa e também a mais difícil de todas as doutrinas bíblicas, porém,
como afirma Lloyd-Jones:
“Ela é, em certo sentido, a mais excelsa e a mais
gloriosa de todas as doutrinas, a coisa mais espantosa e estonteante que
aprouve a Deus revelar-nos sobre Si mesmo”1
Ou
como afirma Bavinck:
“O
artigo sobre a santa Trindade é o coração e o núcleo de nossa confissão, a
marca registrada de nossa religião, e o prazer e o conforto de todos aqueles
que verdadeiramente crêem em Cristo. Essa confissão foi a âncora na guerra de
tendências através dos séculos. A confissão da santa Trindade é a pérola
preciosa que foi confiada à custódia da Igreja Cristã”2
Deus quis mostrar aos seus filhos esse detalhe tão
impressionante de sua essência. Queremos demonstrar que a doutrina da Trindade
não é apenas um conceito teórico ou desinteressante, mas um elemento essencial
para a espiritualidade.
Aspectos
históricos da doutrina da Trindade
No início do cristianismo a Trindade foi motivo de
controvérsias. Antes do Concílio de Nicéia (325 d.C.), as principais
controvérsias trinitárias foram influenciadas pelo judaísmo em sua ênfase no
monoteísmo e na unidade de Deus, também pelo gnosticismo que via todas as
coisas como emanações de Deus e considerava a matéria má, e pelo platonismo que
cria no Logos como a principal criatura de Deus.
Essas correntes filosóficas causaram muita influência nos
cristãos primitivos, originando uma série de disputas, que deram origem a
algumas teorias heréticas sobre a Trindade3. As principais foram:
Monarquismo
Essa heresia surgiu da dificuldade em explicar o elemento
divino na pessoa de Cristo, e mesmo do Espírito Santo, sem cair no erro do
triteísmo.
O Monarquismo Modalista não admitia a existência da
Trindade Ontológica (em essência), mas apenas Econômica (funcional), ou seja,
Pai, Filho e Espírito Santo são uma única pessoa que se manifestou
sucessivamente na história. Deus se manifestou na pessoa do Pai na Criação, na
Pessoa do Filho na Encarnação e na Pessoa do Espírito Santo na Regeneração.
Já o Monarquismo Dinâmico negou a divindade essencial de
Jesus, afirmando que Deus é essencialmente um, e que Jesus havia recebido o
dinamis (poder) de Deus por ocasião de seu batismo, sendo elevado a uma
categoria divina. Esse poder o abandonou poucos instantes antes de sua morte.
Arianismo
O Arianismo recebeu esse nome de seu fundador Ário
(250-336 a.D.), que foi um Presbítero da igreja de Alexandria. Ário era
essencialmente unitarista, e negava qualquer possibilidade de haver uma
Trindade.
Segundo Ário, somente Deus era eterno, Jesus era uma
criatura intermediária gerada do nada por Deus antes da criação do mundo. Desse
modo o Pai nem sempre foi Pai, pois antes de ter criado o Filho, Deus existia
sozinho. O Filho não é eterno.
Segundo Ário, a importância do Filho estava no fato de
que ele foi o instrumento através do qual Deus criou todas as coisas e nada
mais. É impossível não associar o arianismo ao que proclamam hoje as
Testemunhas de Jeová.
Os
Concílios
A igreja reagiu à maioria das heresias antigas
reunindo-se em concílios onde foram formuladas declarações de fé que
demonstravam a verdadeira ortodoxia. Os Concílios que mais trataram a respeito
da trindade foram Nicéia e Calcedônia.
O Concílio de Nicéia foi convocado pelo Imperador
Constantino por causa do Arianismo em 325 d.C. O Arianismo foi rejeitado nesse
concílio, e formulada a seguinte declaração de fé:
“Cremos em um só Deus, o Pai todo-poderoso, criador de
todas as coisas, visíveis e invisíveis; E em um só Senhor, Jesus Cristo, o
filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de
Deus, luz de luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, de uma
só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas vieram a ser, coisas nos
céus e coisas na terra, o qual, por nós, homens, e por nossa salvação, desceu e
Se encarnou, tornando-Se homem, sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos
céus, e virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo. Mas, quanto
àqueles que dizem „tempo houve em que ele não existia‟, e „antes de nascer ele não
era‟ e
que ele veio a existir do nada, ou que afirmam que o Filho de Deus procede de
uma hipóstase ou substância diferente, ou é criado, ou está sujeito a alteração
ou mudança – a esses a igreja Católica (Universal) anatematiza”.
Essa declaração colocou o Filho em pé de igualdade com o
Pai, ou seja, ele é da mesma substância do Pai. Não é um Deus diferente, e
muito menos inferior.
No Concílio de Constantinopla, em 381, as diferenças com
relação à divindade do Espírito Santo foram resolvidas. A Fé Nicena foi
reafirmada nesse Concílio, mas a questão do Espírito Santo foi melhor
esclarecida:
“Nós cremos no Espírito Santo, o Senhor, o Doador da
Vida, que procede do Pai4, que com o Pai e o Filho juntamente é adorado e
glorificado...”
Essa declaração afirma claramente que o Espírito Santo
não era subordinado ao Filho e nem ao Pai, mas era da mesma substância do Pai e
do Filho.
3 Para uma excelente exposição sobre os conflitos
trinitários deste período, ver: Louis Berkhof. Historia de Las Doctrinas
Cristianas, p. 47-119.
4 No concílio de Toledo (589 a.D.) foi acrescentada a
expressão “e do Filho”, sumarizando a doutrina da igreja Ocidental de que o
Espírito procede do Pai e do Filho conjuntamente.
Aspectos
Bíblicos da doutrina da Trindade
Aqueles que negam a existência da Trindade, em geral
acusam os trinitarianos de inventar uma doutrina que não está na Bíblia. Embora
o termo “Trindade” realmente não seja encontrado na Escritura, existe toda uma
convicção de que essa doutrina é amplamente comprovada pelos textos sagrados.
Aliás, de onde tal doutrina poderia surgir senão da Revelação de Deus? Quem
poderia formular essa doutrina do nada?
A igreja teve que reconhecer e defender a Trindade
exatamente para poder conciliar os elementos bíblicos. Como crer que há somente
um Deus como as Escrituras afirmam (Dt 6.4), se as próprias Escrituras dizem
que Jesus também é Deus (Jo 20.28)? E do mesmo modo afirma que Jesus e o Pai
são pessoas distintas (Mt 3.16-17)?
Evidências
do Antigo Testamento
No Antigo Testamento podemos encontrar indícios da
existência da Trindade. Ela não está explicitamente exposta no Antigo
Testamento, mas à luz da revelação do Novo Testamento podemos ver indícios
claros dessa doutrina ainda no Antigo Testamento.
Uma coisa que fica absolutamente clara é a ênfase do
Antigo Testamento na unicidade de Deus (Dt 4.35,39; 32.39; 2Sm 22.32; Is 37.20;
43.10). A principal confissão de fé do povo hebreu em Deuteronômio 6.4 diz:
“Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Da mesma forma Isaías
45.18 diz: “Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o único Deus, que
formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos,
mas para ser habitada: Eu sou o SENHOR, e não há outro”. Porém, encontramos em
muitos outros textos claras indicações de que dentro da divindade há mais de
uma pessoa.
O
Nome de Deus
O título “Elohim”, traduzido como Deus em Gênesis 1.1, é
o nome mais comum aplicado à divindade no Antigo Testamento. Esse nome está no
plural. Isso por si só não quer dizer que haja três pessoas na divindade, mas
de alguma maneira implica em pluralidade dentro da divindade. Entendemos o
texto de Gênesis 1.1-3 à luz do texto de João 1.1-2 como sendo uma referência à
obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo na Criação.
A
comunicação de Deus consigo mesmo
Textos como Gênesis 1.26, 3.22, 11.7 e Isaías 6.8 têm
sido bastante difíceis de explicar. Nesses textos é como se Deus falasse
consigo mesmo na primeira pessoa do plural: “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança...” (Gn 1.26). Com quem Deus estava falando nesses
momentos? Certamente não era com os anjos, pois o homem não foi feito à
semelhança dos anjos, nem os anjos estão no mesmo nível de Deus5. E a Bíblia
não diz que Deus tome conselho com anjos ou qualquer outra criatura (Is
40.13-14). A resposta mais plausível é que Deus falava consigo mesmo dentro da
Trindade.
Esse entendimento só é possível à luz da revelação do
Novo Testamento, a qual de uma maneira ainda mais clara demonstra o relacionamento
dentro da Trindade, conforme pode ser visto nas palavras do próprio Jesus:
“Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o
amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14.23). O mesmo “nós” dos
textos do Antigo Testamento pode ser visto no relacionamento de Jesus com o
Pai.
A repetição dos nomes de Deus na Bênção Araônica
Na Bênção Araônica lemos: “O SENHOR te abençoe e te
guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia
de ti; o SENHOR sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26). Três
vezes aparece no texto o título SENHOR. À luz da revelação do Novo Testamento,
especialmente da Bênção Apostólica, onde as três pessoas estão claramente
distintas (2Co 13.13), conseguimos ver na Bênção Araônica indícios da
Trindade6.
O
Anjo do SENHOR
Uma boa referência do Antigo Testamento sobre a Trindade
encontra-se na pessoa do Anjo do SENHOR. O caso é que algumas vezes esse Anjo,
que deve ser distinguido dos demais anjos, se identifica com o próprio Senhor,
enquanto que em outras ocasiões ele é distinguido do Senhor, o que nos leva a
pensar em pluralidade de personalidade (Ver Gn 16.7-13; 22.15-16; Gn 31.11-13;
Ex 3.2-6; Ex 23.23, 32.34 e Nm 20.16). Geralmente associa-se essa figura do Anjo
do SENHOR com a Segunda Pessoa da Trindade.
Aparições
de Deus (Teofania)
Talvez a prova mais evidente do Antigo Testamento com
relação à Trindade encontre-se nas aparições de Deus. A Escritura do Novo
Testamento diz que ninguém jamais viu a Deus (Jo 1.18; 5.37; 6.46; 1Jo 4.12).
Como explicar, então, todas as supostas aparições de Deus no Antigo Testamento?
(Gn 18.1; 28.13; Ex 33.18-23; Dt 34.10). João mesmo explica: “Ninguém jamais
viu a Deus, o Deus unigênito que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo
1.18). João chamou Jesus de Logos (Jo 1.1) que é traduzido como Palavra ou
Verbo, e traz a idéia de fala ou comunicação.
Entendemos então, que Jesus foi o revelador da pessoa
divina no Antigo Testamento. Jesus disse que Abraão havia visto o seu dia, pois
existia antes de Abraão (Jo 8.56-58), referindo-se com certeza à ocasião da
destruição de Sodoma e Gomorra, quando Abraão viu o Senhor, conforme relata
Gênesis 18.1: “Apareceu o SENHOR a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele
estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia”. Quem Abraão viu
naquele dia, foi o próprio Jesus antes de sua encarnação. Depois daquele
encontro, os anjos desceram e destruíram as cidades.
Outro texto que ajuda a perceber que Jesus se manifestou
no Antigo Testamento é João 12.37-41: “E, embora tivesse feito tantos sinais na
sua presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que
diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do
Senhor? Por isso, não podiam crer, porque Isaías disse ainda: Cegou-lhes os
olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam
com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados. Isto disse Isaías
porque viu a glória dele e falou a seu respeito”. Note que João disse que
Isaías viu a glória de Jesus. Mas, quando, e em que ocasião? O verso 40 é uma
citação direta do capítulo 6 de Isaías. E podemos ler o seguinte no início do
capítulo 6:
“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado
sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo.
Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o
rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os
outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra
está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e
a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque
sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus
olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (1-5).
Isaías disse ter visto o SENHOR dos Exércitos. E se João
disse que Isaías tinha visto Jesus, então o SENHOR e Jesus são a mesma pessoa.
A conclusão é que todas as vezes que Deus foi visto no Antigo Testamento, era a
Segunda Pessoa da Trindade se manifestando. Portanto, o Antigo Testamento tem
bons indícios da existência da Trindade.
Provas
do Novo Testamento
O Novo Testamento é muito mais decisivo em sua ênfase
trinitária. Há muitos relatos que nos dão a justa idéia de que Deus é um e é
três ao mesmo tempo.
No
Batismo de Jesus
O texto do batismo de Jesus narra: “Batizado Jesus, saiu
logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus
descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é
o meu filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17). Note que há três
personagens presentes no relato. Jesus está sendo batizado, o Espírito está
descendo sobre ele, e o Pai está falando dos céus. Inconfundivelmente, aí estão,
simultaneamente as três pessoas da Trindade.
Na
Fórmula Batismal
Jesus disse: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt
28.19). Nesse texto, não somente as três pessoas são citadas conjuntamente,
como a expressão “em nome” está no singular. A Escritura não diz “batizando-os
no nome do Pai, no nome do Filho e no nome do Espírito Santo”. Há apenas um
nome para o Deus que subsiste em três pessoas.
Na
Bênção Apostólica
O texto diz: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de
Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.13). Por que
Paulo colocaria esses três nomes em pé de igualdade, se não considerasse como
pessoas da mesma divindade? Seria Paulo idólatra? Então, fica claro que a
Bíblia afirma a existência da Trindade.
Em Apocalipse 1.4-5 a Bênção é pronunciada de forma
ligeiramente diferenciada, mas as três pessoas estão presentes: “Graça e paz a
vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete
Espíritos que se acham diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel
Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra”.
Na
obra da Salvação
A Escritura mostra em passagens como 1Pedro 1.1-2 e Judas
20-22, Pai, Filho e Espírito Santo agindo em pé de igualdade na vida dos
crentes na eleição, na redenção e durante todo o processo da santificação. A
Trindade conjuntamente age em favor dos escolhidos.
Na
Capacitação da igreja
Nas passagens de 1Coríntios 12.4-6 e Efésios 4.4-6 que
tratam da maneira como Deus capacita sua igreja, para em unidade, desenvolver
sua tarefa no mundo, as três pessoas da Trindade são mencionadas como sendo a
base pela qual a igreja sobrevive e age no mundo. João 14.16 também faz menção
da Trindade, mas nesse caso é o Espírito Santo que vem através do pedido do
Filho ao Pai para substituir o próprio Filho no meio da igreja.
No
Ensino de Cristo
Ao mesmo tempo em que Cristo disse que Deus era seu Pai
que estava no céu (Mt 5.16; 7.21; 11.25-27), disse que não eram a mesma pessoa
(Mt 16.27; Jo 10.17), e disse também que era “Um” com ele (Jo 10.30, 38). A
comparação entre as palavras de Jesus nos leva a crer que existe mais de uma
pessoa na Divindade. E esse certamente é o maior argumento bíblico a favor da
divindade: a consciência do próprio Jesus. Ele sabia e demonstrou que era
alguém diferente do Pai e ao mesmo tempo “um” com o Pai.
Em 1João 5.7. O texto mais claro na Bíblia com relação à
Trindade é 1João 5.7. Entretanto, esse texto é amplamente controvertido, e
muito provavelmente não seja realmente original, pois não aparece na maioria
dos códices gregos antigos, nem nos latinos e não é citado pelos pais
Anti-Nicenos. Mas, há grande evidência da antigüidade desse texto, quem sabe
antes mesmo de 160 d.C7, demonstrando que a doutrina da Trindade já era tão
antiga quanto essa data sugere.
Todos esses elementos bíblicos considerados conjuntamente
deixam a certeza de que há um só Deus, que subsiste em três pessoas: O Pai, o
Filho e o Espírito Santo.
6 Embora alguns vejam na repetição dos adjetivos “santo,
santo, santo” em Isaías 6.3 um indício claro da Trindade, não desejamos ir tão
longe, pois na língua hebraica a repetição visa enfatizar aquilo que está sendo
dito. O mesmo talvez não possa ser dito de Daniel 9.19 e Isaías 33.22.
7
Ver Excelente estudo sobre o texto em Herman Bavinck. The
Doctrine of God, p. 265-266. Para
uma opinião contrária ver John Sttot. I, II, III João – Introdução e
Comentário, p.155.
8
João Calvino. Institutas, I, 13, 21.
9 Berkhof
fala da diferença entre “essência” e “substância” e da tendência moderna de não
usar os dois termos como sinônimo pelo fato de que na igreja Oriental
“substância” traduzia tanto “ousia” como “hipostasis”, sendo, portanto, um
termo ambíguo (Ver L. Berkhof. Teologia Sistemática, p. 88-89).
Aspectos
Teológicos da doutrina da Trindade
Falar sobre a base teológica da doutrina da Trindade
significa estabelecer conceitos que nos ajudem a entender melhor a doutrina. É
claro que jamais podemos nos esquecer que estamos lidando com algo que
ultrapassa em muito o nosso entendimento. As palavras de Calvino sobre a
Trindade são muito instrutivas nesse sentido, e servem de advertência contra
especulações:
Entendamos que se nos secretos mistérios das Escrituras
nos convém ser sóbrios e modestos, certamente este que tratamos no presente não
requer menor modéstia e sobriedade; mas é preciso estar de sobreaviso, para
que, nem nosso entendimento, nem nossa língua vá além do que a Palavra de Deus
nos tem demonstrado. Por que, como poderá o entendimento humano compreender,
com sua débil capacidade, a imensa essência de Deus, quando nem se quer
consegue determinar com certeza qual é o corpo do sol, mesmo que todos os dias
o vê com seus olhos? Assim mesmo, como poderá penetrar por si só a essência de
Deus, uma vez que não conhece nem a sua própria? Portanto, deixemos a Deus o
poder de conhecer-se.8
Definições
Podemos definir a doutrina da Trindade dizendo que há
somente um Deus em essência, mas que este Deus subsiste em três pessoas
distintas. Não há analogia ou ilustração que possa nos ajudar a entender como
isso é possível. No passado, os Pais da igreja acostumaram-se a usar analogias
para ajudar a entender a unidade dentro da Trindade. Falava-se, por exemplo, da
união da luz, calor e esplendor em uma só substância do sol; da raiz, tronco e
folhas de uma planta, ou mesmo do intelecto, vontade e sentimentos na alma
humana. O fato é que todas as ilustrações conseguem acrescentar muito pouco, e
às vezes, só mesmo distorcer a doutrina da Trindade.
Essência é a tradução da palavra grega “ousia” que também
pode significar substância9, e refere-se à natureza divina. Essa natureza
essencial é compartilhada pelas três pessoas da Trindade. Quando pensamos na
raça humana, sabemos que todos compartilham a mesma natureza, a humana, mas,
cada um é um indivíduo autônomo. Compartilhamos a mesma natureza, mas somos
seres diferentes. Na Trindade há apenas uma natureza, pois há apenas um ser. Há
três pessoas, mas apenas um ser. Cada uma das três pessoas da Trindade
compartilha da mesma natureza divina, a qual é numericamente uma. São três
pessoas distintas, mas não separadas. Há apenas uma vontade, um poder, uma
mente, uma determinação, um sentimento, um ser. A essência de Deus não é
dividida entre as três pessoas da Trindade, ela é absoluta, completa e perfeita
em cada uma delas. Não são três partes de um só Deus, nem três deuses, é um
Deus, uma substância e três pessoas.
Pessoa é tradução dos termos gregos “prosopon” e
“hypostasis” ou o latino “persona” que foram usados pelos escritores antigos
para indicar as distinções da Divindade. Modernamente tem se falado em
subsistência como um termo mais adequado e livre de ambigüidades. Na verdade,
muito tempo foi gasto na tentativa de encontrar uma palavra que melhor
definisse o sentido da distinção, e isso por si só, já mostra o quanto todas
são na verdade inadequadas. O importante é que o termo essência nos fala da
unidade de Deus, enquanto que o termo pessoa ou subsistência nos fala das
distinções que existem no ser divino. Pessoa é o elemento diferenciador na
Trindade. Essência é uma, pessoas são três. Não são três modos de
manifestações, mas três existências, ou subsistências reais dentro de um único
ser. No Ser de Deus unidade e diversidade não são antônimas. Deus, em seu ser,
pode ser tripessoal, sem deixar de ser um.
A
Trindade em essência (ontológica)
Dentro da Trindade existe absoluta igualdade de essência,
logo, não existe qualquer grau de subordinação, nem mesmo de honra. O Pai não é
maior em essência do que o Filho e nem o Filho maior do que o Espírito Santo. O
Pai não deve ser mais adorado do que o Espírito, ou o Espírito mais do que o
Filho. Entretanto, há características próprias em cada uma das pessoas da
Trindade, as quais não encontramos nas demais. Estamos falando da Paternidade,
da Filiação e da Processão.
A paternidade é uma característica exclusiva do Pai.
Nesse sentido não podemos chamar o Logos de Pai e nem o Espírito de Pai. A
paternidade do Pai é diferente da que os homens concebem por ser eterna. Não
houve um tempo em que Deus não fosse Pai. Desde toda a eternidade ele é o Pai
do Filho. O Pai se difere do Filho e do Espírito Santo por não ser gerado e nem
proceder de ninguém, e por ser o único que gera.
O Filho possui a característica exclusiva de ser gerado.
Somente o Filho é filho do Pai. Não houve um tempo em que o Filho não existia
(Mq 5.2), ele é eternamente gerado da essência do Pai. A igreja tem
historicamente afirmado que a geração do Filho é desde toda a eternidade como um
ato atemporal. Se o Pai gerou o Filho em algum momento da história, então, isso
significa que ele mudou de essência e que o Filho não é eterno em essência. A
geração do Filho não cria uma nova essência na Trindade, pois é a mesma
essência que é compartilhada tanto pelo Pai quanto pelo Filho. A Geração é uma
comunicação da essência do Pai ao Filho, num ato atemporal, que faz com que
tanto o Pai, quanto o Filho tenham vida em si mesmos (Jo 5.26).
Berkhof dá a seguinte definição da geração do Filho: “É
ato eterno e necessário da primeira pessoa da Trindade, pelo qual ele, dentro
do Ser Divino, é a base de uma segunda subsistência pessoal, semelhante à Sua
própria, e dá a esta segunda pessoa posse da essência divina completa, sem
nenhuma divisão, alienação ou mudança”10.
Em geral os argumentos mais usados para dizer que Cristo
não é eterno são os textos de Colossenses 1.15 e Apocalipse 3.14 que falam
respectivamente de Jesus como o “primogênito” e o “princípio” da criação de
Deus. Dizem os unitários, especialmente as Testemunhas de Jeová, que esses
termos colocam Cristo como a primeira criatura de Deus, não sendo, portanto
eterna. Em Colossenses 1.15 “primogênito” da criação não pode se referir ao
primeiro ser criado, pois subentenderia que Cristo é o primeiro filho da
própria Criação, e isso não faz sentido. A interpretação mais provável é que
Cristo é o herdeiro de toda a Criação de Deus. Do mesmo modo em Apocalipse 3.14
falar de Cristo como o primeiro por causa da palavra “princípio” não faz
justiça ao uso dessa palavra no próprio livro do Apocalipse, pois o próprio
Deus é chamado de princípio (Ap 1.8; 21.6; 22.13). Faz muito mais sentido
pensar que o texto está falando de Cristo como o mais proeminente de toda a
criação, o principal, o mais importante, o chefe (Ver Cl 1.18).
O Pai gera o Filho, o Filho é eternamente “gerado” do
Pai, e o Espírito Santo “procede” eternamente do Pai e do Filho. Nas línguas
grega e hebraica as palavras “pneuma” e “ruach”, que são traduzidas como
“espírito”, derivam de raízes que significam “soprar, respirar, vento”. Daí a
idéia do Espírito ser soprado por Deus (Jo 20.22). A doutrina de que o Espírito
“procede” do Pai e do Filho levou algum tempo para ser formulada pela igreja,
sendo que somente em 589 no Sínodo de Toledo foi formulada a seguinte
declaração de fé: “Cremos no Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho”11.
A base bíblica de que o Espírito procede do Pai e do
Filho é João 15.26, e os textos onde o Espírito é chamado de Espírito de Cristo
ou de Espírito do Filho (Rm 8.9; Gl 4.6; Fp 1.19; 1Pe 1.11). Berkhof define a
“espiração” do Espírito como sendo “o eterno e necessário ato da primeira e da
segunda pessoas da Trindade pelo qual elas, dentro do Ser Divino, vêm a ser a
base da subsistência pessoal do Espírito Santo, e propiciam à terceira pessoa a
posse da substância total da essência divina, sem nenhuma divisão, alienação ou
mudança”12.
A
Trindade no trabalho (econômica)
Uma maneira interessante de ver a Trindade é entender a
forma como a Trindade age, não em relação a si mesma, mas em relação à criação.
Quando falamos em essência, vimos que embora haja características próprias em
cada pessoa da Trindade, não existe qualquer grau de subordinação entre elas.
Porém, quando falamos em trabalho (economia) da Trindade, percebemos que há uma
ordem como Deus trabalha. Isso nos revela bastante do caráter Trinitário.
Jesus fez algumas declarações que certamente poderiam nos
deixar confusos se não entendêssemos a diferença de Trindade em essência
(ontológica) e Trindade econômica. Já vimos que ele disse ser um com seu Pai,
porém, em outros textos ele afirmou ser submisso ao Pai, como por exemplo, João
6.38: “Porque desci do céu não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a
vontade daquele que me enviou”. E também noutra ocasião ele disse: “O Pai é
maior do que eu” (Jo 14.28).
Já dissemos que de acordo com a Bíblia há igualdade
absoluta entre as pessoas da Trindade, mas então, por que Jesus disse que o Pai
era maior do que ele? Certamente porque se referia a sua encarnação e a obra
que precisava fazer. Ele foi submisso ao Pai nesse sentido, e portanto,
inferior em função, mas não em essência. Estamos agora falando das obras que se
realizam, não dentro do ser divino, mas em relação à criação, providência e
redenção. Vemos nas Escrituras algumas obras sendo mais atribuídas a uma das
pessoas da Trindade do que a outra. Entretanto, devemos tomar o cuidado para
não exagerarmos nas distinções, pois de certa forma, a Trindade participa
conjuntamente de todas as obras externas.
Não precisamos temer falar de uma subordinação econômica
do Filho ao Pai, desde que entendamos que não há qualquer subordinação de
essência. É por isso que Paulo diz: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo
o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de
Cristo” (1Co 11.3). No contexto ele está tratando da diferença que existe entre
o homem e a mulher, e da subordinação que a mulher deve ao homem. Ele não está
dizendo que a mulher é inferior ao homem, mas que deve ser submissa e guardar as
diferenças proporcionais13. Da mesma forma o Pai é o cabeça de Cristo, mas isso
não quer dizer que ele é superior, pois a essência é a mesma. A questão está
nas funções que são diferentes.
Devemos evitar a formulação simplista de que o Pai é o
responsável pela Criação, o Filho pela Redenção, e o Espírito pela
santificação, pois a Trindade participa conjuntamente de tudo isso. A distinção
que podemos fazer é a seguinte: Ao Pai pertence mais o ato de planejar, ao
Filho o de mediar, e ao Espírito o de agir. Isso pode ser visto no relato da
criação.
No texto de Gênesis 1.1-3 as três pessoas da Trindade
estão agindo. O texto diz: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn
1.1). Note que a criação é atribuída a Deus. Entretanto, em seguida veja
algumas manifestações diferentes desse Deus: “A terra, porém, era sem forma e
vazia, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1.2). Aí está a
Terceira Pessoa, o “Espírito de Deus”. A maioria dos comentaristas concorda que
o Espírito Santo está numa função de “energizar” a matéria, sendo, portanto, o
ponto de contato entre Deus e a matéria. Mas, e onde está o Filho? O Filho é a
“palavra” de Deus. Foi João quem chamou Jesus de o “verbo” de Deus (Jo 1.1).
Ele é a Palavra proferida, o “haja luz”, é o instrumento através do qual todas
as coisas foram criadas. A Bíblia afirma isso categoricamente: “Pois, nele,
foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades.
Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16).
Portanto, podemos dizer que na obra da criação, o Pai
fala, o Filho é a Palavra falada – Mediador, e o Espírito Santo é o agente
direto sobre a matéria. Em termos semelhantes, a Trindade trabalha na Redenção,
cada pessoa executando uma tarefa particular. O Texto de 1Pedro 1.2 é claro
nesse sentido, pois diz que os crentes são: “Eleitos segundo a presciência de
Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue
de Jesus Cristo”. Aqui também o Pai é o idealizador da salvação, pois a ele
pertence o ato de escolher os que devem ser salvos. Nesse sentido, o Pai é o
autor da eleição. O Filho está novamente na função de Mediador, ele possibilita
a obediência a Deus através da aspersão de seu sangue. Já ao Espírito Santo é
indicada a tarefa de santificar, ou seja, separar para si os eleitos. Então, o
Pai elegeu, o filho salvou e o Espírito aplicou a salvação.
Na verdade essa ordem de funções pode ser vista por toda
a Escritura: O Pai planejando a salvação (Jo 6.37-38) e escolhendo os eleitos
(Ef 1.3-4), o Filho executando o plano de Deus (Jo 17.4; Ef 1.7), e o Espírito
Santo confirmando essa obra sobre os crentes (Ef 1.13-14). De fato, como
declara Lloyd-Jones, “essa é uma ideia atordoante, ou seja, que estas três
bem-aventuradas Pessoas, na bem-aventurada santíssima Trindade, para minha
salvação, quiseram dividir assim o trabalho”.14
8
João Calvino. Institutas, I, 13, 21.
9
Berkhof fala da diferença entre “essência” e “substância” e da tendência
moderna de não usar os dois termos como sinônimo pelo fato de que na igreja
Oriental “substância” traduzia tanto “ousia” como “hipostasis”, sendo,
portanto, um termo ambíguo (Ver L. Berkhof. Teologia Sistemática, p. 88-89).
10
Louis Berkhof. Teologia Sistemática, p. 95.
11 A
igreja Oriental (Católica Ortodoxa) nunca aceitou essa formulação.
12
Louis Berkhof. Teologia Sistemática, p. 98.
13
Ver Augustus N. Lopes. O Culto Espiritual, p. 64-65.
14
D. M. Lhoyd-Jones. Deus o Pai, Deus o Filho, p. 122-123.
Aspectos
práticos da doutrina da Trindade
Até aqui vimos aspectos históricos, bíblicos e teológicos
da doutrina da Trindade. Agora queremos falar sobre aspectos práticos. Claro
que isso não significa que o que foi dito acima não é prático. Mas até aqui nos
preocupamos em definir bem os conceitos, agora queremos tratar sobre como a
doutrina da Trindade deve influenciar a nossa vida diária.
É impossível ter um relacionamento correto com Deus sem
considerar a Trindade. Hoje as pessoas demonstram inconscientemente preferência
por uma das pessoas da Trindade. Há aqueles para quem a pessoa do Pai é a
central. Essas pessoas pensam muito pouco em Jesus e no Espírito Santo.
Principalmente os oriundos da tradição católica, quando lembram de Deus, pensam
na pessoa do Pai. Outros preferem a pessoa do Filho, geralmente os
influenciados pelo “pietismo”, mas certamente são minoria. O Espírito Santo é o
foco principal da vida da maioria dos crentes das igrejas carismáticas. Essa
fragmentação das pessoas da Trindade é coisa bem típica do nosso mundo moderno.
Ela dilui a compreensão da riqueza de Deus.
Por outro lado, na prática o que se percebe é uma espécie
de unitarismo funcional. Quando pensamos em Deus, não trazemos à memória a
existência triúna, mas o imaginamos como uma pessoa única. Isso compromete
demasiadamente o relacionamento com ele, pois impede que entendamos mais
completamente o seu caráter. Na verdade é impossível compreender a Criação e a
Redenção sem pensar na Trindade. Pois, como vimos, tanto a Criação quando a
Redenção não são obra de uma das pessoas divinas, mas da Trindade como um todo.
Nesse ponto outras coisas precisam ser consideradas. Um
problema é imaginar que Deus precisou criar o mundo para se sentir mais pleno.
Isso é um engano, pois Deus é absolutamente completo em si mesmo. Ele não
precisava criar o universo para se sentir melhor, nem mesmo para experimentar
algum relacionamento, pois em seu ser, Deus já é completo e relacionável.
Na oração sacerdotal Jesus disse: “E agora, glorifica-me,
ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse
mundo... porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.5,24). Na verdade,
esse por si só, já é um grande argumento em favor da Trindade. Se a Bíblia diz
que Deus é amor (1Jo 4.8), então, o que ele amava antes de ter criado alguma
coisa? Deus exercitava o amor consigo mesmo, no relacionamento trinitário, que
por sua vez, veio a ser a base para o relacionamento amoroso com os homens, que
assim, também pode ser chamado de “amor eterno” (Jr 31.3). Deus expandiu seu
amor intra-trinitário para suas criaturas, e isso demonstra de forma assombrosa
como é grande esse seu amor.
Quando Deus nos chama para a fé, na verdade é um convite
para mergulhar no relacionamento trinitário, aquele relacionamento que as
pessoas da Trindade têm entre si. Jesus disse: “Se alguém me ama, guardará a
minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo
14.23).
Deus não precisava criar nada para se sentir mais pleno,
mas ainda assim decidiu criar para dar maior expressão ao relacionamento
trinitário. Somos chamados para participar disso, como Jesus deixou bem claro
em sua oração: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu
em ti, também sejam eles em nós” (Jo 17.21). A idéia somada desses textos é: O
Deus triúno em nós, e nós no Deus triúno, uma comunhão com base trinitária.
Somos chamados para mergulhar no amor da Trindade. Por essa razão, não
considerar a Trindade é entender menos o amor de Deus.
Isso por sua vez nos leva a entender nosso chamado
relacional. Jesus continuou orando Pai: “Eu lhes tenho transmitido a glória que
me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim
de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me
enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (Jo 17.22-23).
É fácil de entender porque a comunhão é tão difícil na
igreja. As pessoas buscam comunhão através de eventos sociais, trabalhos
comunitários, músicas que incentivam cumprimentos mútuos, etc. Mas a verdadeira
base da comunhão da igreja é a Trindade. Precisamos entender que fomos chamados
para refletir o mesmo amor que existe na Trindade. Somos chamados para
mergulhar nesse amor, e de tal forma ele precisa inundar a nossa vida, que os
outros irmãos receberão os efeitos dele.
O próprio sentido de nossa missão no mundo também está
explícito nessas palavras de Jesus. Queremos que o mundo conheça o Evangelho,
para isso fazemos imensas campanhas evangelísticas, cultos de evangelização,
distribuímos folhetos, mas percebemos que os resultados são insignificantes.
Jesus ensinou que nosso testemunho depende de nossa unidade. Enquanto o amor da
Trindade não invadir nosso coração a ponto de alcançar os outros, o mundo
continuará descrente em relação a Jesus.
A consciência da Trindade muda também o próprio culto que
prestamos a Deus. O culto cristão é essencialmente trinitário. Uma definição de
culto cristão poderia ser: “Adorar o Pai, pela mediação do Filho, no poder do
Espírito Santo”15. Essa é uma definição interessante, mas há o perigo de
compartimentar as coisas, pois não é só o Pai que é adorado, e sim o Deus
triúno. A idéia é que o culto como um todo é para a Trindade e obra da
Trindade. O acesso à presença de Deus se faz pela pessoa do Filho. A comunicação
de Deus com o povo se dá pelo Espírito que faz uso da Palavra. O culto é uma
vibrante atuação do Deus triúno.
Quando temos isso bem claro em nossa mente, percebemos
que a única coisa que precisamos para adorar a Deus verdadeiramente é a atuação
da Trindade. Isso evidentemente não dispensa os elementos do culto como a
música, os instrumentos, e as próprias pessoas. Mas a adoração verdadeira não
pode depender de um cântico animado, de instrumentos bem tocados, ou da
eloquência do pregador. Se essas coisas são os instrumentos da adoração é
provável que não esteja acontecendo adoração. A adoração verdadeira é obra da
Trindade em nós, e a partir de nós, para a própria Trindade. Por isso o culto
bíblico é bastante diferente do que se vê na maioria das igrejas. O culto
bíblico é teocêntrico e não antropocêntrico.
Finalmente, a doutrina da Trindade é um chamado ao
serviço. Estudamos sobre a absoluta igualdade essencial da Trindade. Nesse
sentido não há qualquer grau de subordinação entre as pessoas da Trindade. Mas
percebemos que nas obras externas, ao trabalhar na Criação e na Redenção, as
pessoas da Trindade se subordinam umas às outras e trabalham em perfeita
cooperação. Embora sejam pessoas plenas, e cada uma tenha a essência completa
da Trindade em si, não são, nem desejam ser autônomas. São absolutamente livres
e isso faz com que se relacionem e promovam a obediência. O Filho faz questão
de obedecer ao Pai, e o Espírito é obediente ao Filho.
A dificuldade que os cristãos têm de trabalhar juntos é
por causa do ego. Cada um tem seu orgulho pessoal, e deseja que sua opinião
prevaleça. Achamos que obedecer e servir uns aos outros nos torna inferiores.
Achamos que a liberdade é a autonomia. A Trindade nos ensina que através do
serviço e da obediência cristã é que desfrutamos da plena liberdade. Quando o
Filho de Deus amarrou a tolha na cintura e lavou aos pés dos discípulos, isso
não o fez menos digno nem menos livre, ao contrário.
Diante dessas coisas, concluímos que devemos valorizar
mais essa doutrina. Precisamos nos arrepender por considerar tão pouco esse
precioso ensino da Escritura, e passar a considerar o caráter trinitário de
nosso Deus em nosso relacionamento com ele, com os irmãos e no culto que lhe
dirigimos. Acima de tudo permanece que não podemos conhecer verdadeiramente a
Deus, se não considerarmos seu caráter trinitário. Como diz Bavinck, “somente
quando nós contemplamos essa Trindade é que nós descobrimos quem e o que Deus
é”16.
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meu amigo se tem três pesso porque na hora que diz em nome la em mateus esta no singular . c fosse mas de um taria no plural? DEUS te abençoe
Boa noite. Comecei a ler teu site e me deparei com meu problema. Estou em uma igreja que é muito pratica porém quero mais teória apreender realmente as bases da nossa fé e isso vem la de tras ou seja da tora
Este site estou começando justamente para armazenar meus estudos, pesquisas e também auxiliar alguns.bora para cima
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